A nova classe média brasileira tem suas próprias as pirações e referências
Por Luiz Alberto Marinho - Revista Gol - no. 102 - set. 2010Há cerca de 30 anos, o genial Joãosinho Trinta defendeu-se das acusações de exagerar nos espetaculares desfiles da sua Beija-Flore de Nilópolis com uma frase memorável: "Povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual". A ideia refletia uma verdade da época, quando tudo levava a crer que o tal luxo cobiçado pelos pobres era uma fiel reprodução da vida dos mais rcios.
Os tempos mudaram. Hoje, o significado do luxo para a nossa emergente nova classe média não é necessariamente igual ao luxo da elite. Pesquisa recém-concluída pela consultoria A Ponte, do publicitário André Torreta, sugere que começa a surgir o conceito de "luxo popular brasileiro". Quer um exemplo? Para as classes mais altas, luxo é uma maneira de ser ou de sentir-se diferente dos outros. Para a classe C, ao contrário, é uma forma de inclusão, de ter o que os outros já têm. Outra diferença é que para os jovens da nova classe média luxo está essencialmente ligado a marcas e produtos e não a experiências, como viagens, orgias gastronômicas ou aventuras esportivas.
A pesquisa d'A Ponte mostrou que para a classe C existem três tipos de luxo - o inatingível, o da autoestima e o do pertencimento. O luxo inatingível, representado por carros caríssimos, bolsas e sapatos de "muitos mil reais", como dizem os entrevistados, não só não faz parte da vida dessa garotada emergente como também não habita seus sonhos de consumo. Importante mesmo é o luxo da autoestima, que passa pela compra de produtos ligados a moda ou beleza e faz com que essas pessoas se sintam bem com elas mesmas.
Isso inclui deste tênis até unhas coloridas, apliques para o cabelo e acessórios. Nesse caso, para se sentir bem, vale até mesmo recorrer a "réplicas", que é um nome chique para falar de produtos piratas. Finalmente, o luxo do pertencimento é traduzido por marcas e produtos que ajudam a nova classe média brasileira a ser mais bem-aceita nos lugares que frequenta, seja o trabalho ou a própria comunidade onde mora. ou seja, para fazer parte da turma e sair bonito na foto, as regras são cuidar da aparência e usar, afinal, aquilo que todo mundo usa.
Um dos grandes méritos desse trabalho é questionar, mesmo que indiretamente. a noção de que os mais pobres aspiram ser como os mais ricos. O argumento "aspiracional" tem sido usado largamente nos últimos anos para justificar muitas campanhas equivocadas. Agora começa a ficar claro que a nova classe média - que é a maior parte da população brasileira, diga-se de passagem - tem suas próprias aspirações e referências. É bom respeitar isso.
Prezadas e Prezados, comentem o artigo e digam com essa nova visão pode afetar o mercado publicitário.