segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O novo consumidor engajado


Por Roberto Naime - Portal EcoDebate, 04/12/2014

Descrever o novo consumidor, sob a dimensão do marketing é relativamente fácil, basta buscar uma pesquisa bibliográfica mínima. São homens e mulheres de qualquer idade, com mentalidades independentes, individualistas, com maior grau de informação e que ambicionam obter, por meio de suas aquisições, a sensação de autenticidade, de exclusividade.

Este conceito vai além da aquisição. Comprando produtos com a imagem de socialmente justos e ambientalmente responsáveis, os consumidores desejam ser percebidos desta forma dentro da sociedade em que vivem.

Desejam fazer da sua atitude de consumo, um gesto que seja percebido como de engajamento nos princípios de eficiência econômica, preservação ambiental e equidade social que caracterizam os princípios da sustentabilidade.

Essas mudanças vêm acontecendo desde o final da década de 60 e são o tema central de A Alma do Novo Consumidor, um livro de David Lewis e Darren Bridges.

Este novo consumidor valoriza aspectos mais subjetivos nos produtos e a informação subliminar que a aquisição do produto transmite aos demais membros da comunidade. Compreender os fatores que o motivam pode significar o futuro de uma empresa e do seu trabalho.

No caso ambiental isto é bem claro. A nítida ênfase das propagandas das organizações financeiras, setor mais pujante e lucrativo da atual economia não deixam dúvidas. Todas as instituições, em maior ou menor grau, optam por uma estratégia de comunicação que valoriza a responsabilidade sócio-ambiental em suas mídias.

Como se não bastasse a diversidade de produtos nas prateleiras, multiplica-se a isto a diversidade de conceitos que cada um deles transmite. Os bancos mostram claramente que a opção pela responsabilidade sócio-ambiental veio para ficar. Algumas empresas de petróleo e fabricantes de automóveis mais ousados também aderiram a esta comunicação. Para que não haja dúvidas, citam-se os bancos do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander, HSBC, entre as empresas de petróleo, a Petrobrás e a Ipiranga (com estratégia de cartão carbono zero no cartão dos postos de combustível da distribuidora, assim como o HSBC) e a Fiat no setor automobilístico.

Assistir a estratégia de comunicação destes grupos, nos variados tipos de mídia não deixa dúvidas.
O livro de Lewis e Bridges (A Alma do Novo Consumidor, David Lewis & Darren Bridges. M. Books, 214 págs.) desvenda, ainda, as estratégias dos cool hunters, aqueles que “adivinham” as tendências de consumo ou seja os denominados conhecedores.

Este grupo influencia o consumidor por estar “próximo” a ele, ainda que sejam celebridades. A tradicional propaganda boca a boca continua existindo e sendo importa, e atualmente, versão high tech, se vale muito da Internet para impulsionar ou jogar um produto na lama. São eles, muitas vezes, os responsáveis pela formação de um novo mercado consumidor.

Dentro deste contexto a adoção dos novos valores, que sejam eticamente comprometidos, socialmente justos e ambientalmente responsáveis, ganham uma dimensão nunca imaginada, pois além da influência pessoal, existe a poderosa ferramenta da internet, ainda não bem dimensionada, que faz uma grande diferença.

A internet é particularmente relevante nas faixas de consumo mais elevadas e no público com acesso a rede, que cresce em proporção logarítmica dentro da sociedade.

Portanto não esquecer ou negligenciar, o novo consumidor, cujas características são bem conhecidas e no qual as influências éticas, sociais e ambientais são claras, já existe, não é só de alta renda como argumentam os simplórios e não pode ser manipulado pela primariedade de mídias descomprometidas.

Prezadas e Prezados, esse texto fez parte de um concurso público que pedia que marcasse a questão correta:


A) expor um ponto de vista sobre a nova sociedade de consumo que cada vez mais se preocupa com a ética e os valores  comerciais. 
B) propor  um  novo  comportamento  do  consumidor  perante  a  tradicional  boca  a  boca  que  ganha  força  nas mídias  internacionais. 
C) alertar as empresas sobre a postura do novo consumidor e promover uma mudança radical na forma de persuasão  do novo público. 
D) mostrar um panorama do novo consumidor e a postura das empresas em relação a esse comportamento que vigora  nos cidadãos na atual sociedade. 
E) atentar para o fato de que o consumidor de hoje está engajado em um comportamento consumista que valoriza a  tecnologia e tudo que deriva dela. 

Na sua opinião, qual é a resposta correta e porque? 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Bem comum



Por Marcelo Leite - Folha de S. Paulo - 18/10/2015

Jornalistas e homens de negócios subscrevem sem hesitar a tese de que a motivação fundamental das ações de cada ser humano é o auto-interesse. Todos nós estaríamos no mundo para maximizar os próprios benefícios e vantagens, ainda que à custa dos outros.

Essa noção rude da natureza humana se popularizou no conceito de Homo economicus. A perseguição de objetivos egoístas pelos indivíduos só se anularia por meio da concorrência no mercado, que premia os mais eficientes e assim garantiria o bem comum.

Não têm faltado livros, colunas e reportagens sobre neurociência e psicologia evolutiva para corroborar essa visão. A voga editorial se passa por reação pragmática e realista à ficção do bom selvagem.

E se não for nada disso? E se for ela mesma uma ideologia sintonizada com a onda conservadora que varre o país e boa parte do mundo?

Felizmente existem jornalistas dispostos a desafinar o coro dos contentes com a natureza humana. Um deles é o colunista George Monbiot, do diário britânico "The Guardian", que na quarta-feira (14) publicou um artigo para o qual chamou atenção o economista José Eli da Veiga.

Monbiot dá publicidade a um estudo inédito da Common Cause Foundation baseado em entrevistas com mil pessoas. Colheram-se duas revelações transformadoras, diz: 1) a maioria (74%) segue valores altruístas; 2) a maior parte (78%) também acredita que os outros são mais egoístas do que na realidade são.

A explicação óbvia para os adeptos do H. economicus é que os entrevistados estão mais perto da verdade no resultado (2). E que (1) não passa de auto-engano edificante (ou tentativa de impressionar o entrevistador).

Há outra possibilidade, porém. A regra entre seres humanos pode bem ser o altruísmo (1). E (2) se explicaria por um erro grave de julgamento sobre o que predomina nos corações e mentes dos semelhantes.

Monbiot afirma que a baixa prevalência do egoísmo está em linha com outros estudos. Cita um artigo de revisão –tentativa de estabelecer o estado da arte na matéria­– no periódico "Frontiers in Psychology" segundo o qual o comportamento humano com relação a outros indivíduos da espécie não tem paralelo no mundo animal.

Seríamos únicos, dizem Keith Jensen, Amrisha Vaish e Marco Schmidt, da Universidade de Manchester (Reino Unido) e do Instituto Max Planck de Leipzig Alemanha), em nossa capacidade de empatia, de preocupação com o bem-estar alheio e de criar normas para alinhar comportamentos.

E todos aqueles estudos, que receberam tanto destaque, mostrando que outras espécies –sobretudo chimpanzés– também exibem senso moral e de justiça? A resposta curta dos revisores: são ocorrências especiais, às quais faltam o grau de coordenação e a quantidade de regras dos humanos.
Eu não sei se Monbiot e cia. estão certos ou não. Só sei que generalizações sobre a natureza humana são muito difíceis de provar e que as modas intelectuais vêm e passam, como tudo.

Nós, humanos, provavelmente não somos essencialmente egoístas nem altruístas. Depende muito do indivíduo e da situação concreta. E cada um escolhe os estudos que melhor se encaixam nos valores que já carrega consigo.

Prezadas e Prezados, qual o impacto do que o artigo trata no comportamento de consumo?