Uma pesquisa feita pelo instituto Retrato mostra uma juventude impaciente, mas versátil e empreendedora
Para as crianças, eles são aspiração. Para os mais velhos, inspiração. Os jovens, com sua beleza, vigor físico e inquietação, servem de referência para o comportamento de toda a população. Por isso é tão importante entendê-los. Uma pesquisa exclusiva feita por ÉPOCA em parceria com o instituto Retrato Pesquisa de Opinião e Mercado mostra que a geração atual de jovens, que está moldando a cara do Brasil, é flexível, empreendedora e surpreendentemente apegada à família. Foram ouvidos 400 jovens de 25 a 30 anos das classes A e B em quatro capitais. As respostas colocam em xeque estereótipos – e ajudam a vislumbrar o futuro próximo do país.
Desde 1960, uma das principais crenças é que para ser jovem é preciso romper com tudo o que veio antes – a começar pela relação com os próprios pais. Para a geração Y ou do milênio, como ficaram conhecidos os nascidos no final dos anos 70 em diante, é diferente. Para ela, a família é fonte de apoio e inspiração. Segundo a pesquisa, a família está no topo da lista de importância – junto com saúde e qualidade de vida –, com a nota máxima: 10. O resultado é corroborado por um estudo da Escola Superior de Marketing e Propaganda (ESPM), que constatou que a família é a instituição em que os jovens mais confiam. “Houve uma aproximação: em vez de romper com os pais, os jovens os admiram”, afirma Lívia Barbosa, antropóloga autora da pesquisa e diretora do Centro Altos Estudos da ESPM.
Em vez de ouvir repreensões dos pais, a publicitária paulistana Mariana Gentile Nobre, de 26 anos, recebeu o apoio deles quando decidiu se casar aos 19, depois de seis meses de namoro. Eles confiaram no amor que a filha sentia pelo então namorado, Alexandre Nobre, enquanto as amigas, inconformadas, diziam que ela perderia a juventude. Mariana, como elas, também pensava em esperar até os 30 para casar, mas mudou de ideia. Hoje, grávida de nove meses de sua primeira filha, a publicitária optou novamente pela família: saiu do emprego numa grande empresa para trabalhar na agência de design gráfico de seu marido e, assim, ter mais flexibilidade de horários. “Prezo pela qualidade de vida e, sobretudo, pela felicidade de minha família”, diz.
Assim como Mariana, os membros da geração Y têm planos e objetivos, mas não se importam de mudá-los. Mais do que olhar para o futuro, eles querem aproveitar o caminho. Segundo um amplo estudo que será divulgado nas próximas semanas pela consultoria especializada em comportamento jovem Box 1824, a ênfase no tempo presente seria consequência do contato com a tecnologia. “O jovem hoje consegue aproveitar as oportunidades que se apresentam quando se apresentam”, diz Carla Maiumy, sócia diretora da Box 1824. “Ele não vive refém do futuro.”
Logo depois de começar o curso de engenharia na Universidade de São Paulo, Gustavo Young, de 27 anos, sabia que não era disso que gostava. Não abandonou a faculdade, mas, em 2004, morando em Londres para aperfeiçoar o inglês, descobriu que seu hobby, a gastronomia, poderia ser sua nova carreira. Ao estagiar num restaurante a convite de uma amiga, descobriu que s poderia usar seus conhecimentos de engenharia para aprimorar as técnicas do preparo dos alimentos e apressar a realização dos pratos. Foi o início de sua bem-sucedida carreira como chef e consultor de gastronomia. “Nunca tive medo de mudar. Só nunca tinha pensado que meu hobby poderia se tornar meu trabalho”, diz Gustavo.
Além de deixar de lado os planos iniciais da engenharia, Gustavo também abandonou a relativa segurança de um emprego numa empresa privada para se tornar um empreendedor. Segundo a pesquisa ÉPOCA/Retrato, 30% dos jovens, se pudessem, escolheriam abrir um negócio próprio. A maioria (39,5%) ainda prefere uma colocação na iniciativa privada, opção mais segura que o empreendedorismo e mais arriscada que o emprego público.
É significativo que quase um terço dos jovens queira ser seu próprio chefe. É possível que o número fosse maior caso o jovem se sentisse mais otimista em relação à economia. Segundo o levantamento, os jovens de hoje são muito inseguros. Numa escala de 0 a 10, a média de preocupação com todos os fatores é 7. Os principais temores dos jovens são o desemprego e a violência urbana. Logo em seguida vêm a inflação e a possibilidade de uma crise econômica. Apesar do bom momento econômico do país, apenas 28% dos jovens acham que seu futuro será melhor que o de seus pais.
Para o economista Sérgio Braga, diretor da Retrato, o pessimismo do jovem brasileiro foi o que mais surpreendeu. É possível, porém, que o resultado reflita as altas expectativas dos jovens para si mesmos – mais do que sua falta de confiança em relação ao futuro. Estudos americanos mostram que a geração Y quer, de imediato, salários altos, horários flexíveis e mais tempo de férias. Eles também exigem atenção constante de seus chefes e querem saber com frequência como estão se saindo no trabalho. “O jovem de hoje é ansioso, tem expectativas muito maiores. É imediatista, quer tudo no presente. E inseguro, precisa de retorno constante”, diz Braga.
Os medos e as insatisfações com o presente, contudo, não estão, no momento, impulsionando a atuação social ou política dos jovens. De acordo com os entrevistados na pesquisa, apesar de a maioria (53,8%) se dizer de centro-esquerda, apenas 23,5% já fizeram algum trabalho social – incluindo apoiar alguma causa on-line. Essa geração tem seus valores sociais. Talvez o principal deles seja o respeito aos direitos humanos. O tema vem em primeiro lugar na lista de importância, antes do casamento, da democracia e de Deus. Mas os jovens de hoje se dizem descrentes da forma tradicional de fazer política – em partidos políticos e militâncias estruturadas – e talvez não tenham encontrado ainda uma forma de atuar no espaço público.
Embora as causas ambientais tenham ganhado relevo nos últimos 30 anos, relativamente poucos jovens decidiram fazer algo contra a degradação do planeta. A paulistana Gabriela Marques, de 23 anos, faz parte de uma minoria – e é até chamada de “ecochata” pelas amigas. Formada em gestão ambiental, ela tem um gaveteiro com minhocas para fazer a compostagem do lixo de sua casa, dá cursos de conscientização ambiental para crianças e até substituiu os absorventes pelos paninhos à moda antiga durante a menstruação. “Busco contribuir para o meio ambiente em tudo o que faço”, afirma Gabriela, que diz não fazer parte de nenhum movimento político.
Thalita Duarte, de 19 anos, estudante do curso de relações internacionais, já usa a internet para tentar engajar mais pessoas em suas causas. Ela faz parte de um projeto social que apoia hospitais e creches. “Costumo pedir ajuda para meus amigos pela internet”, afirma Thalita. Uma das apostas dos pesquisadores é que, a exemplo de Thalita, o engajamento dos jovens aumente à medida que eles aprendam a usar as novas ferramentas para fazer política.
Prezadas e Prezados, comentem o artigo a partir dos conhecimentos debatidos em sala e se posicionem, enquanto jovens, sobre o que a reportagem diz sobre vocês mesmos.