|
Carlos Ferreirinha, ex-presidente da Louis Vuitton no país e dono da
MFC Consultoria, comenta o mercado de luxo e dá dicas que podem ser
seguidas por qualquer empresa
|
Por Michelle Ferreira - Época Negócios - 12/08/2014 08h14
Marcas de luxo que operam no Brasil não fazem dinheiro. Essa foi uma das
frases ditas por Carlos Ferreirinha, ex-presidente da Louis Vuitton no
Brasil e proprietário da MFC Consultoria, empresa que presta assessoria
de luxo em gestão para marcas como GM, MAC, Swarovski e Tiffany, na
última sexta-feira (8/8) no Fashion Law Winter Edition 2014. O evento
foi organizado pelo Instituto Brasileiro de Direito e Moda em parceria
com a Câmara de Comércio da França.
De acordo com Ferreirinha, a atividade do luxo no país é complexa,
burocrática, difícil e onerosa, além de dar lucro só no longo prazo. Os
motivos que tornariam o Brasil um país difícil para estas marcas seriam,
de acordo com ele, os impostos, a falta de investidores, que buscam o
retorno imediato, e o mercado fechado. “O Brasil é um país fechado e não
só para moda e para o luxo. O Brasil é fechado para qualquer tipo de
segmento. Trazer batedeira para o Brasil é complicado, imagina então
trazer um vestido da Armani”, afirmou.
Segundo o ex-presidente da Louis Vuitton no Brasil, ao invés de fazer
dinheiro, as empresas de luxo fazem negócios no país. Diferente do que
acontece na Rússia, na China e no Japão, as marcas que operam por aqui
estão olhando para o futuro, para os próximos 20 anos. “Se todas as
marcas de luxo que operam no Brasil decidirem fazer a conta no lápis,
ninguém paga essa conta. As marcas de luxo olham no longo prazo e essa é
uma das razões para termos poucos investidores no Brasil, que tem
cultura do lucro em curto prazo, do imediatismo”.
E por que elas estariam interessadas no futuro? Ferreirinha afirma que
os próximos 20 anos para o mercado brasileiro serão prósperos, pois
metade da população brasileira ainda estará abaixo dos 35 anos. “Na
Europa, o consumo envelheceu. Na China e no Japão, por exemplo, o
consumo está concentrado nos grandes centros, mas aqui os focos de
consumo estão espalhados - Brasil é o único país da América Latina que
tem Pernambuco, Fortaleza, Salvador, Goiânia, Ribeirão Preto, Macaé,
Curitiba, Porto Alegre. O Brasil tem uma perspectiva gigante além de São
Paulo e Rio de Janeiro. Isso é uma explosão. No longo prazo, esse novo
desenho geográfico do consumo brasileiro irá sustentar o investimento de
hoje”. De acordo com ele, por enquanto as grandes marcas compensam a
perda do dinheiro investido no Brasil com o lucro gerado em outros
países. “Ela faz a vitrine aqui e resolve as contas internacionalmente”,
afirmou.
Lições
Ferreirinha afirma que todas as marcas, até as mais populares, devem
aprender com o luxo. “Quando nós analisamos os últimos 100 anos das
grandes marcas de luxo, percebemos que elas nunca cresceram tanto como
nos últimos 20 anos. Todo mundo que estava em volta no mercado falou:
‘eu também quero aprender’”. Ferreirinha citou três exemplos que
aproveitaram essas lições para crescer: a marca de chinelos Havaianas, o
sorvete Magnum, da Kibon, e o McDonald's, que começou a servir
hambúrguer com carne Angus. “O Magnum, que era apenas um sorvete, passou
a ser Magnum Sensações e foi de R$ 3 para R$ 7. Isso é aprender com o
luxo. O Magnum não se tornou luxo, mas ele soube roubar parte dessa
vontade de consumir”.
Para as empresas, ele cita alguns princípios que devem ser aprendidos:
comprometimento obsessivo com a excelência, inovação, design,
preocupação com a sustentabilidade, precisão, obsessão por detalhes,
encontro com o raro, único e exclusivo, profissionalismo e perfeição.
Dessa forma será possível provocar o desejo de consumo. “Por que as
pessoas compram produtos de luxo e premium? Não há nenhuma possibilidade
de a resposta para esta pergunta estar ligada a algo racional. Em
qualquer pesquisa, o cliente sempre dará como resposta a qualidade do
produto. Alguém aqui já teve algum problema na vida em escrever com
caneta Bic? O consumo de luxo é um consumo emocional, as pessoas compram
quando a emoção ultrapassa a razão. Um consumo pautado nas sensações e
não na função”, afirmou.
Para instigar o consumo, as marcas utilizam o método classificado por
Ferreirinha como "Efeito Disney". “Quando você sai de um brinquedo que a
excitação está lá em cima, qual é a primeira coisa que a Disney te faz?
Coloca na sua frente uma lojinha. Você sai comprando orelha, chapéu,
caneta, tudo. Aí, anos depois, você olha para aquele capacete do Pateta e
percebe que nunca usou aquilo na vida”. Como exemplo brasileiro,
Ferreirinha cita o topo do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. “Se você
ficar alí por uns minutos, sai diferente. Sai com a excitação lá em
cima”, afirmou.
Ferreirinha também comentou o caso da loja Forever 21, que conquistou
os brasileiros com preços baixos. Inaugurada no Village Mall, na Barra
da Tijuca (RJ), a fila da loja registrou espera de até cinco horas. “O
Brasil fez uma absurda revolução de suas bases sociais. O consumidor vê
uma marca internacional, uma loja de design impecável, produto
impecável, uma consciência fashion impecável, entregando calça jeans a
R$ 30. Até eu faria fila. As marcas do Brasil estão entregando calça
jeans a R$ 300. Imagina o que isso faz na cabeça do consumidor. Isso é
brutal”.
Prezadas e Prezados, vocês concordam com o Ferreirinha? Justifiquem a partir de nossa conversa sobre motivação.
Texto indicado pelo aluno Roger Henrique.